domingo, 16 de agosto de 2009

Amar é...

limpar o cocô dos bichinhos, dizia o meu padrasto.

Dar comida, água, brincar, sim... mas amor mesmo, é limpar a sujeira que o cachorro e o gato fazem.

Nosso cachorro fazia cocô andando em círculos! Ele ia para o quintal, cheirava o lugar certo, e começava a dar voltinhas em torno dele mesmo, e as bolinhas de cocô iam caindo, fazendo um círculo em volta dele.

A areia do gato era areia normal, dessas que se usa em construção. Meu padrasto peneirava e depois lavava a areia. Muito mais ecologicamente correto do que essas areias que eu compro hoje em dia.

Pois é. Mamãe teve um derrame e ficou sem movimentos na perna e no braço esquerdos. Nada.
No hospital, revezávamos, entre meu padrasto, meu irmão e eu, de modo que ela não ficou sozinha um segundo sequer.

Nós a banhamos, demos comida e, limpamos seu cocô.

Quando ela retornou para casa teve de usar fralda geriátrica. No seu rosto, expressões de incompreensão e inconformismo. Meu pai, ainda que irritado pelo cansaço, estava lá, na cozinha, e na fralda.
Eu procurava poupá-los. A ele, de ver sua esposa em situação tão degradante, e a ela, de ser vista em situação tão degradante.

Entendia, aos poucos, porque meu padrasto dizia que amar não era apenas dar comida e brincar, era principalmente, limpar o cocô...

Um comentário:

  1. talvez seja porque nos apossamos das coisas como quando escrevemos e nos apossamos de determinados assuntos, como quem joga dominó em vez de sermos como o arquiteto que constrói, a saber, "poucos escrevem como um arquiteto constrói: primeiro esboçando o projeto e considerendo-o detalhadamente. A maioria escreve da mesma maneira com que jogamos dominó. Nesse jogo, às vezes segundo uma intenção, às vezes por meio do ACASO, uma peça se encaixa na outra, e o mesmo se dá com o encadeamento e conexão de suas frases"... SCHOPENHAUER

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