limpar o cocô dos bichinhos, dizia o meu padrasto.
Dar comida, água, brincar, sim... mas amor mesmo, é limpar a sujeira que o cachorro e o gato fazem.
Nosso cachorro fazia cocô andando em círculos! Ele ia para o quintal, cheirava o lugar certo, e começava a dar voltinhas em torno dele mesmo, e as bolinhas de cocô iam caindo, fazendo um círculo em volta dele.
A areia do gato era areia normal, dessas que se usa em construção. Meu padrasto peneirava e depois lavava a areia. Muito mais ecologicamente correto do que essas areias que eu compro hoje em dia.
Pois é. Mamãe teve um derrame e ficou sem movimentos na perna e no braço esquerdos. Nada.
No hospital, revezávamos, entre meu padrasto, meu irmão e eu, de modo que ela não ficou sozinha um segundo sequer.
Nós a banhamos, demos comida e, limpamos seu cocô.
Quando ela retornou para casa teve de usar fralda geriátrica. No seu rosto, expressões de incompreensão e inconformismo. Meu pai, ainda que irritado pelo cansaço, estava lá, na cozinha, e na fralda.
Eu procurava poupá-los. A ele, de ver sua esposa em situação tão degradante, e a ela, de ser vista em situação tão degradante.
Entendia, aos poucos, porque meu padrasto dizia que amar não era apenas dar comida e brincar, era principalmente, limpar o cocô...